luis Suardíaz
UMA RAPARIGA MUITO ESTRANHA
Falei-lhe de Kafka (um luxo nessa altura),
do compromisso que cada um tem,
das elegias de Duino e de outros êxitos
de Rainier M. Rilke.
Acompanhei-a a um exame de francês,
a uma reposição de Calígula, a um cinema
atroz onde levavam Júlio César
na versão de Marlon Brando.
Dei-lhe o meu telefone, uma biografia de Tolstoi
ou Dostoyevsky, uma lapiseira azul, uma preciosa
gravação do pássaro de fogo.
Mostrei-lhe todas as persianas de velho estilo
que então conhecia, as livrarias secretas,
as paisagens dos arredores, um ídolo taino
que me emprestaram os amigos, alguns poemas.
Uma vez deixou entrever
que a humanidade não lhe interessava nada.
Não voltámos a ver-nos desde então.
(1936)
3 comentários:
Olá!
Lindo poema!
Eu não sou nenhuma "poetisa", mas tenho um Blog de pensamentos e versos livres, adorei o seu...vou seguir, me faz uma visita lá, rs
Mila
Passei pra dizer oi, JG.
Que bom que ter ativando o blog que muito interessa.
abç,
Janaina
Uma angústia no peito...
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