Desvio dos teus ombros o lençol


"Lira de bolso"
1969
DAVID MOURÃO-FERREIRA
Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol, 
que   é   feito   de   ternura   amarrotada, 
da frescura  que vem depois  do Sol, 
quando  depois   do  Sol  não  vem mais  nada.

Olho a  roupa  no  chão:   que tempestade! 
Há restos  de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade 
onde uma  tempestade  sobreveio...

Começas a  vestir-te,  lentamente, 
e é ternura também que vou vestindo, 
para   enfrentar   lá  fora  aquela   
gente que   da   nossa   ternura   anda   sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós 
a  despimos  assim  que estamos  sós!

Sem comentários: