Nem palavras. Nem medos. Nem serenas


"Recado para a amiga distante"
1956
Daniel Filipe

Nem palavras. Nem medos. Nem serenas 
pálpebras descidas sobre o sonho. 
Apenas a tua mão na minha. E o rumor 
da música do cego, àquela esquina.

Amo-te. E depois? A vida escorre 
pelas paredes da prisão-país. Morrem poetas. 
Máquinas rodam no silêncio. Esperas 
acontecem, de súbito, violentas.

Como menino a quem foi dado o nome 
sem mistério de seus pais, 
olho sobre o teu corpo a ondulação da música 
e anseio as tuas coxas reveladas.

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