Rua cinzenta

De Vasco Costa Marques
Rua cinzenta —
à meia luz da tarde nevoenta
brincam creanças de rostos magros
e duros como os músculos dos braços dos pais.
Mulheres às portas
com as mãos cruzadas por sobre o ventre
olham paradas
paradas
como se estivessem esquecidas de viver
como se a tarde se cristalizasse
na expressão desfeita dos seus olhos sábios
sábios das vidas do lixo das pedras
da rua cinzenta
onde estagnaram
com as mãos cruzadas sobre os aventais
a ver brincar repetições de filhos
de rostos magros e duros
como os músculos dos braços dos pais.

1 comentário:

Carol disse...

Parece mesmo que estou a ver a cena...