Cheiro a certa dúvida no espaço.


1960
João Rui de Sousa
Cheiro a certa dúvida no espaço. 
Cheiro a cantar seco de chocalhos. 
Cheiro a minha vida e cheiro o meu cansaço 
de febres amarelas e trabalhos.

Embrulhos completam-se em cordéis. 
Brisas ?    São músicas passadas. 
Passeio, à noite, à beira dos bordéis. 
Ó meu grande amor, não sabes nada.

O gesto surpreende e é antigo. 
A voz traiu-me em transe de medida. 
Faço do silêncio um caracol amigo 
enrolado ao sol da minha vida.

Vertigens e cansaços.    Deslises e abraços. 
— Tudo num só verbo inconvertível. 
Ninguém sabe nada.    Ninguém sabe nada. 
Ninguém sabe nada desta vida.

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