Traz tanto ódio dentro o vagão do amor,

De Vasco Costa Marques
Traz tanto ódio dentro o vagão do amor,
tanto tédio alimenta a raiz da alegria,
que é natural, amor, que a tristeza demore
sobre o nosso telhado, uma nuvem sombria.

Nem um dia sequer, nem no dia mais negro,
se encerrou para nós a janela da esperança:
era impossível ser, com tantos olhos, cego,
e, tendo tantas mãos, perder a confiança.

Mas vem sempre atrasada a palavra devida:
tão agreste este chão, tão fechado este céu...
que «é noite!» diz por vezes a canção, e a vida,
vai a estrofe no meio, amanheceu.

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