1959
RUI KNOPFLI
Dawn
A gónica noite estremece
e despedaça-se
lá fora em chuva
nas vidraças.
Das sombras, das solidões.
dos recantos recônditos
da noite e da chuva
saem homens.
Pela crosta da terra passa
um frémito de arrepio.
Chove.
Chove em África.
É noite.
É noite em África.
Mão desmedida ergue-se
no breu,
corpo da terra que as águas
fecundam, impregnam.
Silêncios, hesitações,
sono de séculos, jugos
racham em surdina.
Jogamos «bridge» na tepidez
do «living»,
reclinamo-nos na norma
penumbra erótica
dos cinemas,
ou dormimos em calma
digestão.
Para lá
da noite angustiada
monótono acalanto ergue
a voz.
No inescrutável, nas sombras,
nos recantos recônditos de agónïca noite
África desperta…
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