Abandono agora estas palavras


"Algumas palavras"
1969
EDUARDO GUERRA CARNEIRO

Abandono agora estas palavras
e deixo que elas sirvam de pedal.
À quinta-feira tombam desarmadas.
Em desleixo as largo. Não são estas
já minhas as palavras. São papel.
Delas me sirvo e logo as abandono.
As palavras violo. O sol lhes roubo.
Para nada mais as quero.
Nem sequer me pertencem.
São coisa digna. Seriam
coisa séria. Caminho entre palavras
calcinadas. São símbolos
apenas. Letra a letra as destruo.
Reconstruo mais tarde
outro edifício. Com outras
ou restos destas mesmo.
Para que mais queria eu palavras?
Palavras não deflagram.
Só servem de rastilho.

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