(Acontece que, depois de ter ganho os Jogos Florais Universitários, no “Dia do Estudante”, me animei a concorrer afoitamente ao "Prémio Revelação", da Sociedade Portuguesa de Escritores, que era dirigida por um naipe de notáveis em que coabitavam elementos da oposição intelectual e do próprio regime, numa promiscuidade literária pouco propícia à isenção. ... Mas, afinal, o prémio acabou por não ser esse ano atribuído, na área da poesia... A razão dessa omissão vim depois a sabê-la, através do poeta Armindo Rodrigues, que me procurou a mim e a um amigo poeta também concorrente, o João Guterres, explicando-nos que devido a um desacordo entre os membros do júri, que chegou a pensar atribuir-nos o prémio ex-aequo este tinha decidido anulá-lo. E isso devido a divergências mais políticas do que literárias, como nos confidenciou esse poeta (neo-realista) num desabafo com o seu quê de patético, numa noitada em sua casa, em que tivemos de ouvi-lo ler, narcisicamente, entre copos de uísque, os seus próprios poemas...
Ficámos edificados, eu e o meu perplexo confrade. Melhor dizendo: enojados. E decidimos criar, para defesa da poesia contra a sua desonra - ou a dos poetas, como diria Benjamin Péret - uma associação de jovens escritores. Ela viria a chamar-se, mais restritamente, Clube dos Poetas, tendo chegado a ter uma existência embrionária, com a participação de poetas ainda não "consagrados", como o João Rui de Sousa, o Vasco Costa Marques, o Nuno Gonçalves, o Carlos Monteiro dos Santos, a Teresa Rita Lopes e outros que já esqueço. )
In, Seabra, José Augusto (2001) , Antologia Pessoal, Thesaurus Editora
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